domingo, 30 de dezembro de 2012

As surpresas mais lindas



Ou “O fim e o início” ou “Acerto de contas” ou “Quem é vivo sempre aparece” ou “Oscilações” ou “Permanecer no Amor” ou “Um pouco de racionalidade” ou “Poemas” ou “Dar uma pausa ao coração”. Não necessariamente nessa ordem.

São 5 (cinco) páginas no Word. Eu entendo quem não quiser ler tudo. Essa postagem não contém nomes, quem quiser uma dica de CTRL+F para se achar aqui, é só me pedir.

O ano começou já me trazendo uma das minhas mais belas surpresas: uma prima-irmã que eu não conhecia e que, em pouco tempo, tornou-se tudo na minha vida. (Aliás, Hellen, o seu nome é o único que citarei aqui. E eu estou morrendo de saudades.)
Eu nunca sei por onde começar a falar de 2012. Então, começarei pelo fim. Um fim que se deu logo no início. O fim de uma história linda, o fim daquelas promessas de casamento, o fim de um ano e sete meses. O ano começou com um “mas eu acho que acabou”, com lágrimas no travesseiro e com a sensação de que aquele tempo tinha sido muito pouco para o planejado. Eu senti um vazio que me tirou do chão por algum tempo; vazio esse que eu nunca havia sentido igual. Sentia-me oca. Daquele jeito bem meu de ser, eu achei que não iria amar nunca mais. E aí entra uma das frases que mais me marcaram esse ano: “Você parece que tem quarenta anos; fala como se já tivesse se casado e se divorciado.” (obrigada, pessoa que me disse isso, acho que você sabe que é você.)
Eu passei um tempo me questionando, perguntando o porquê de tudo. Depois parei de perguntar. Decidi apenas aceitar tudo aquilo e me conformar que ganhei uma ex-sogra/segunda mãe excelente e uma parte da família que me era desconhecida mais excelente ainda. E eu não poderia querer nada mais do que essas surpresas que Deus me reservou.

O título principal dessa retrospectiva é “As surpresas mais lindas” e não é à toa. Ô ano para me fazer conhecer gente linda. Depois do meu começo um pouco triste, a felicidade veio, a tristeza veio também e depois a felicidade e depois a tristeza. Uma oscilação de humor louca! As emoções transbordando... Tiveram momentos em que a carga emocional ficou pesadíssima e eu cansei. Enchi o saco de uns, parei de falar com outros e incluí no meu vocabulário mais palavrões do que antes. Não, eu não me orgulho disso.

Após o término, o passado resolveu retornar. Um para ser resolvido, o outro para apenas me lembrar que ainda existia. E, ainda, outros dois para me fazer lembrar que nunca tinham sido passado, estiveram sempre no presente. Foi assim que, regada a muita pizza de frango com catupiry, nós três voltamos. Estamos grudadinhas de novo. E, na verdade, nunca tínhamos desgrudado. Demos apenas uma pausa... Fim da pausa: quero-as para sempre.

Ao outro passado resolvido eu volto depois. Ou não. Depende do meu humor.

E ainda outro que retornou diretamente da segunda série para a minha vida foi um certo tocador de guitarras aí. Uma fofura só com os meus textos... (Como posso te agradecer por todos os elogios de graça?). A gente quase se viu no show do Maroon 5... Mentira, não foi quase, mas vou fingir que foi. Eu agradeço pela boa vontade dele em tocar Visconde para mim. Eu sei que um dia isso sai.

Agora posso começar com as minhas surpresas ainda não conhecidas. Pessoas que chegaram somente para fazer meu ano de vestibular ficar menos barra pesada; pessoas que mudaram a minha visão de mundo, que me mudaram como pessoa e como escritora; pessoas que, com certeza, eu vou levar por muito tempo e não apenas esse ano.

Ah, antes... Eu conheci pessoalmente uma surpresa esse ano também, mas eu já a conhecia e tive o prazer de tê-la em minha casa. Sempre apreciei as amizades virtuais e todo mundo sabe disso; cultivei a nossa amizade por seis anos e nunca conseguimos nos ver. Até aquele dia. No meio do nada, ela me liga: “Aninha, eu estou por aqui, posso passar aí hoje?”. E aí ela veio, e ficou... E nós tivemos aquelas milhares de conversas que tínhamos por entre fios e cabos pessoalmente. Eu a vi sorrir! Gargalhei junto a ela e isso não tem preço. Tudo que a nossa amizade enfrentou e a conquista que esse encontro significou para nós só demonstra que ainda temos muito o que viver juntas; que essa amizade por MSN, Orkut, Facebook e SMS também é real. Nós somos reais. Eu a amo; e ela foi mais verdadeira todos esses anos por computador do que muita gente foi por aí em três dimensões.

Então, as minhas surpresas. Primeiramente, o “viadinho do olho verde que toca piano” (só porque você me disse que se identificaria se eu colocasse isso), mas, na verdade, o melhor seria dizer que é o dono dos olhos verdes mais lindos que eu já vi. E não digo isso apenas pela minha fixação em olhos claros... Ele foi um dos grandes responsáveis pela minha mudança esse ano, pela minha volta aos poemas e pela minha tentativa de saída da zona de conforto. Exímio conhecedor de Drummond e Pessoa, posso chamá-lo facilmente de meu reflexo no espelho. Porque, como sempre digo a ele: diferenças, nós temos muitas, mas o que me chama atenção são as semelhanças, que são imensas. Um dia, ele me disse que gosta de se identificar nos meus detalhes, consequentemente, me identifico nos dele e vice-versa. Foi o indivíduo que me apresentou o Visconde, que deu asas a um dos meus poemas mais bonitos; foi quem me fez ficar viciada em suas músicas e foi quem me deu um dos presentes de aniversário mais lindos que eu já recebi. E não, “Noites em claro” não perdeu seu significado pra mim. Nunca perderá. O que eu posso dizer, por fim, é que escrevi muito esse ano e também por causa dele. E que, além disso tudo, eu tenho uma admiração extrema por ele como escritor. (“No lustre” nunca será superado, sinto muito.)

Como falei dos meus poemas, uma das minhas grandes conquistas esse ano foi a volta aos braços dos versos e estrofes. Eu não achei que fosse conseguir de novo depois de anos, mas um dia surgiu... Aquele tipo de inspiração que eu não poderia deixar passar de forma alguma. E voltar a poetizar foi uma sensação única, incrível, que me faz ter vontade de não parar nunca mais. Porque afinal, eu nunca havia parado. “Um poeta nunca para de poetizar” também me disseram, um dia.

Segunda surpresa, mas também não necessariamente nessa ordem: a pessoa que me deu os abraços mais rápidos e mais significativos nas minhas manhãs de trabalho. E que eu tive a honra de escutar que sou uma de suas melhores amigas. Foi um achado incrível também! Talvez ele seja a pessoa mais aleatória que eu já conheci, mas eu adoro as minhas risadas noturnas com nossos assuntos nada a ver. Eu dei mais sorrisos depois dele.

Bem... Foi em sete de setembro (eu só lembro porque era uma data importante) que conheci mais uma das minhas surpresas. Talvez a mais surpreendente das surpresas. Foi do nada, apenas um “adicionar aos amigos” no facebook, elogios ao blog... Mensagens e mais mensagens pelo celular, telefonemas de madrugada, assuntos sem fim, gargalhadas altas às quatro horas da manhã; a “pizza de pepperoni” que só ele sabe como se diz; a Praia de Copacabana, a foto nas costas dele; a afinidade logo de cara, os conselhos do tipo “Você acha que vai valer a pena contar? Ele vai poder fazer o que por você?”; todos os toques em relação à minha escrita, todos os poemas lidos por telefone, os girassóis, o poema da minha liberdade completamente inspirado em um poema dele; ele dizendo que não ia me abandonar depois de três meses. E ele não me abandonando depois de três meses. Eu me lembro bem dessa promessa. Nós nos afastamos, mas eu sei que aquela ligação entre nós persiste ainda junto com todos os “boa noite, se cuida, durma bem, sonhe com os anjos” e por trás de todos os “coisa linda” que já dissemos um para o outro. Porque ele me ajudou no meu primeiro passo a voltar a cantar e me deu a primeira experiência com violão na praia; porque São Pedro foi muito camarada em abrir o sol para nós naquele dia; porque não me parece estranho gostar tanto do seu All Star vermelho. E também porque eu sei que parecemos velhos amigos e seremos sempre assim. (Preciso te ver!!!!!)

Para honrar o título “Permanecer no Amor”, eis uma das minhas surpresas mais agradáveis esse ano: meu retorno à Igreja. Tudo começou em maio, naquele momento ainda um pouco sem chão, que eu não sabia muito bem o que fazia no Encontro de Jovens “A Nova Onda”. Não me arrependo de ter ido e de tudo que aprendi ali. Foi onde a minha fé se mostrou firme e forte pela primeira vez no ano. E onde também eu conheci uma das pessoas mais importantes na minha caminhada. Eu quis permanecer e não consegui, por outros motivos que hoje percebo serem nada diante do amor que eu tinha e tenho para receber.
Com esse encontro, comecei a fazer parte da Pastoral Jovem da Igreja, porém não ativamente – apenas participava do grupo no facebook. Um dia, fui chamada para o retiro – e que retiro! Encontrei o amor de Deus refletido em todos os cantos: nas paredes, no chão, na grama, nos tetos e, principalmente, nas pessoas. Joguei fora um coração velho e voltei transformada.
Ao voltar, recebi um convite irrecusável para fazer parte do Ministério de Música. Conclusão? Voltei a cantar. Deus me pegou por uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Voltei a cantar! E não poderia estar mais feliz.
Eu conheci pessoas, ao longo da minha curta caminhada, que mudaram a minha perspectiva de mundo, que me mudaram e que me fizeram enxergar um amor que antes eu não era capaz de enxergar. Agradeço a elas de todo o coração, mas em especial a essas (que talvez leiam esse texto ou talvez não):

À minha irmã mais nova, que me ensinou tanto e que acreditou no meu potencial vocal. Àquela que insistiu tanto para eu ir e que me fez ficar. Àquela que eu conheci no Nova Onda e que, desde o primeiro abraço, já se tornou especial. Àquela que tantas vezes me atura perguntando se ficou tudo certo, se fiz tudo direitinho. Àquela que me orienta e que tem uma paciência invejável comigo. Àquela que eu posso dizer que amo – e amo mesmo! –, apesar do pouco tempo de convivência.

À primeira pessoa que me falou da minha voz. A ele, que me ouviu esgoelar na missa e mesmo assim achou a minha voz bonita. A um amigo e psicólogo (ninguém mandou você, um dia, me relevar isso), que me entende exatamente com todas as minhas confusões e ainda me manda as músicas mais lindas do mundo para me acalmar.

Àquele que, de fato, me colocou na banda, que me fez não um convite, mas uma intimação para comparecer. Ao dono da voz mais linda que eu já ouvi. Àquele que tem uma luz que eu muito admiro e que consegue passá-la a todas as pessoas.

Ao meu mais novo irmão, o meu anjo, que me dá os abraços mais calorosos que eu já recebi. Àquele que me deixou abraçá-lo quando eu precisava e quando não precisava também; àquele que fez os elogios mais lindos ao meu sorriso. Ao dono de uma sinceridade ímpar, que passa o sentimento através dos olhos. A ele, que me acolheu de um jeito que eu nunca pensei ser possível.

Ao meu Ministério de Música, por me fazer voltar, por me fazer acreditar em mim e por acreditar em mim; por toda a acolhida, por toda força, por toda a insistência para que eu fosse; pela simpatia, pelos sorrisos e por tudo de bom que me proporcionaram nesse final de ano.

Cabe aqui um agradecimento especial a uma pessoa que não é surpresa. À minha mãe, por sempre rezar por mim e por sempre torcer pela minha fé. A ela, que acreditou em mim e que sempre soube que eu voltaria para a música.

A todas as pessoas da Igreja que fizeram com que tudo valesse à pena.

Ao meu passado resolvido eu volto depois? Não, não voltarei. Ele foi resolvido e permanece passado. Só um breve agradecimento a todo carinho que ele me proporcionou esse ano.

É muito válido falar também da minha aproximação de dois irmãos escolhidos por mim. Não são da minha família, mas moram no meu coração. Nossas saídas juntos, nossas risadas e nossas conversas só mostram que essa amizade sobrevive a todos os anos que se colocam à nossa frente. Eu sou completamente apaixonada por eles e a vida seria sem graça sem todos os erros de Português dela e todas as piadas e ironias dele. Eu os amo.

E para terminar o meu ano, um Natal belíssimo: toda a família reunida, rindo e fazendo bagunça e as presenças ilustríssimas da minha avó e minhas primas. (E também a marmelada de ser tirada pelo meu pai no amigo oculto.)

Agora... Por último, mas não menos importante: meu ano escolar, meu ano de vestibular, meu ano de estudar... Enfim. Tudo isso. Mais perto da colação – ou um pouco depois dela – eu voltarei detalhadamente a essa turma e aos três anos passados. Como aqui cabe uma reflexão desse ano, vamos a ela.

A minha turma não era uma turma. Todos se gostavam individualmente, mas, como turma, não nos encaixávamos muito bem. Ao longo desse ano, vi algo extraordinário acontecer: nos transformamos, nos juntamos. E, hoje, tenho muito orgulho de dizer, somos uma turma.
Conseguimos conciliar os interesses diferentes desse ano, conseguimos nos unir, seja através do Máfia, seja através de qualquer coisa, nós conseguimos! Eu vi crescer uma amizade e um sentimento lindo esse ano, que não quero deixar escapar de forma alguma.
A última semana de aula foi um marco: chorei todos os dias da semana, menos (ironicamente) na sexta, o último dia, pois não tinha caído a ficha de que era realmente o último. Primeiro, o discurso lindo do Alexandre, dizendo que nós nos tornamos parte do sobrenome dele. Discurso esse que passou pela minha mente a semana inteira e sempre me ajudava a chorar. Depois, a última aula com a Gilda, aquela coisa fofa! A Gilda foi um dos nossos presentes esse ano.
E aquela quinta-feira... Ah, aquela quinta-feira! Depois de um dos nossos lanchinhos deliciosos, nos abraçamos, cantamos todas aquelas músicas antigas (e se deu a sacanagem de cantar “Por enquanto”), as músicas de torcida, as nossas músicas e choramos. Muito. Com a despedida da Mari, com a nossa despedida...
Na sexta, a última aula da minha vida: de português. Não poderia ser mais perfeito e mais triste. As palavras da Marta sobre os nossos trabalhos, os nossos trabalhos e a minha felicidade em ter dado uma aula de português no meu último ano de colégio. A nossa última foto... E a nossa comemoração na Lapa. Quanta coisa linda eu ouvi ali!

Eu quero agradecer, de coração, a Tout Le Monde, que fez com que esses últimos três anos no colégio valessem muito; que me divertiu, que me fez rir horrores e que me fez entender que esse sentimento que temos ultrapassa qualquer limite escolar. Agradeço-lhes por serem quem são e por se tornarem tão especiais para mim.

E quero agradecer também às minhas Fifis maravilhosas, que fizeram desses anos algo surpreendente, espetacular e divertido. Elas trouxeram um sentido a todos os meus dias, foram a minha base para eu não cair, foram as minhas lágrimas quando eu precisei chorar e o meu sorriso quando eu precisei sorrir. Elas foram uns anjos, as melhores amigas que alguém poderia ter. E tenho certeza que será sempre assim. Nós sete, coladinhas e sempre rindo, sempre pagando mico, sempre juntas. Elas me mostraram um lado maravilhoso da vida e eu fui muito mais feliz depois de ter me aproximado delas. Todos os dias ao lado delas, apesar das implicâncias, ironias, bullying etc, foram os melhores dias do mundo. Eu sentirei uma falta imensa de aturá-las seis dias por semana. (Não me abandonem nunca, tá?)


Isso foi meu ano. Mas, na verdade, não representa nem metade do que realmente significou para mim. Eu mudei muito, minha relação com as pessoas mudou. Eu ouvi esse ano “você é muito simpática” e nunca pensei que estaria viva para ouvir isso. Também ouvi que “você tem que pensar com o coração, e não com a razão” e nunca pensei que estaria viva para ouvir isso. Ao final do ano, eu deixei um pouco as minhas paixões e o meu coração acelerado de lado e resolvi me dedicar à minha felicidade e às pessoas a minha volta que me são tão queridas.
Terminarei o ano cantando e dançando e passando o Reveillon com as integrantes do meu lindo trio. Quer melhor final do que esse?

Eu acho difícil que um ano tão lindo, tão cheio de emoções, de sentimentos, de brigas, de falhas, de enganos, de tristezas, de carinho, de amor, de afeto, de fraternidade, de escrita, de leitura, de estudo, de compaixão, de paixão e, principalmente, de surpresas seja superado por qualquer outro. Porém sempre existem mais surpresas. E eu mal posso esperar por elas!

Um 2013 abençoado e com muita arte para todos. Qualquer tipo de arte.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O(s) monstro(s)

O céu estava escuro
E as estrelas reluzentes.
Dentro de mim, um muro
Que não me deixava ver toda beleza.

Através da janela,
Um monstro me olhava.
No reflexo dela,
O monstro era eu.

Por sua feiura
Escapava toda loucura
Que escondi dentro de mim.

Os monstros eram meus medos
Que me acordavam logo cedo
E me faziam dormir tarde assim.

Todos os dias, após uma hora,
Eles gritavam face a face comigo
Que o tempo das máscaras acabava agora.
E eles nunca tinham fim.

O medo de amar, o medo do amor,
O medo da solidão e do desespero,
O medo da dor,
E o medo de que tudo se repetisse.

Eles me rondavam, me escolhiam.
No espelho, eram eles que eu via.
E, na vida, se escondiam.

Mascarados e sempre assustadores,
Criavam em mim angústias sem igual.
Acima de todos os temores,
Corroíam-me sempre que abria a guarda.

Através de janela,
Monstros me olhavam.
No reflexo dela,
O único monstro era eu.


(Talvez seja uma resposta ao "Medos", talvez não.)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Palavras, apenas palavras

E eis que as palavras passam pelos meus ouvidos e chegam ao meu coração de forma diferente. As tais barreiras geográficas me remetem às minhas próprias barreiras, físicas e comportamentais.
Meu interior não se cansa de palavras e meu corpo até mesmo clama por elas. Elas não vêm, simplesmente jorram. Enlevam-me e embalam-me pelo conhecido e também desconhecido. Elas parecem fazer parte do meu ser e correr por veias e artérias assim como o sangue, oxigenando meu corpo; têm, para mim, um sentido incomum: as letras são a minha porta para o paraíso e cada vírgula é uma pausa que leva à reflexão da grandiosidade delas.

Aula de Biologia - Obrigada, Sidney, pelas "barreiras geográficas".

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O fim do ciclo

Colocar as tensões para fora, pôr o nervosismo em uma tela e não apenas guardá-lo dentro de mim. Depositar as ondas de sentimentos que me invadem agora. Por entre história, biologia, física, química e geografia, aqui estou eu novamente: nas Letras, de onde nunca saí. Ainda bem, porque senão suportar seria muito mais difícil.
É o último ano - e, meu Deus, já?! Já. Ouvi tantas frases repetidas esse ano, tantas palavras iguais. Não posso dizer que me cansei, porque queria que isso durasse para sempre. Não isso, vestibular. Mas isso, vida escolar. Porque de estudos, livros e vestibular, já estou saturada. Desde o primeiro ano ouvindo essa palavra e pensando que era uma realidade muito distante.
Distante ou não naquela época, ela está aqui hoje. E faz questão de me lembrar a cada dia. Vestibular, vestibular, vestibular. O seu futuro. Sim, o meu futuro nas mãos de uma única prova. Incrivelmente, isso não me assusta. Não estou com medo. Estou confiante e talvez isso seja apenas uma máscara, mas que seja! Se conseguir disfarçar a ansiedade, já está bom demais.
E não vale a pena pensar que o Brasil inteiro está junto comigo nessa... São várias histórias diferentes, realidades diferentes, classes diferentes e personalidades diferentes que se juntam em diversas salas espalhadas pelo Brasil, na mesma hora, no mesmo dia, para realizar a mesma prova. E qual o objetivo disso tudo, afinal? Empregos, vida confortável... O quê?! Eu não sei. Mas estamos todos encaixados nisso de uma forma que escapar não parece possível. E, bem lá no fundo, não queremos escapar.
São quatro horas e meia em um sábado e cinco horas e meia no domingo. Cento e oitenta questões que vão medir o quanto sua vida escolar inteira te deu de conhecimento. Ou não. Múltiplas escolhas não medem conhecimento. "É uma prova de resistência", como ouvi essa frase! É, de fato, uma prova de resistência e talvez o maior desafio seja ficar sentado na cadeira desconfortável sem poder falar - o que, para mim, é uma enorme dificuldade - por horas e horas. Pelo menos podemos comer... É.
Fato é que essa nova etapa da vida ou fechamento do ciclo, como eu gosto de dizer, exige muita coragem. Existem pessoas que estão preparadas e outras não. E cada um tem seu tempo. De qualquer forma, é realmente muita responsabilidade para um adolescente decidir que carreira quer seguir no auge dos momentos de diversão. Mas é assim. E por que é assim? Não sei.
O que eu espero é que cada segundo valha a pena no final. E não para poder dizer "Caramba, como sou inteligente", mas para poder ter certeza de que fechei o ciclo com maestria. Não pela bagagem de fórmulas e coisas decoradas que meu cérebro acumulou, mas pela vivência e pelo caráter que todos esses anos me deram; pela quantidade de sorrisos que dei, mesmo em momentos de desespero e pelo apoio que tive, de todos os meus amigos, durante esses anos.
O Exame Nacional do Ensino Médio não é um bicho de sete cabeças. É apenas o começo de um novo mundo, que se abre pelo SISU e perpetua qualquer universidade que possamos escolher.
Tenho certeza que deixarei a escola, mas ela não sairá de mim jamais.

(E boa tarde, UFRJ. Me aguarde, pois estou chegando!)

domingo, 28 de outubro de 2012

Girassóis brilhantes















Silêncio.
Há um novo caminho à sua frente.
A linha do horizonte se moldou aos seus olhos
para que você pudesse novamente se guiar.

Silêncio.
Escute o canto dos pássaros,
as cigarras que brincam
anunciando o Sol que logo vem.

Silêncio.
Abra os olhos!
Há um campo florido bem ali.
Ali mesmo, dentro e fora de você.
Margaridas, begônias, violetas,
rosas vermelhas e rosas.
E girassóis.

Um Sol amarelo que cumprimenta os girassóis
e os acaricia num gesto digno de encantamento.
Os girassóis, em agradecimento, se viram
e vão se virando conforme o Sol vai andando.

Eles brilham tanto quanto o Sol
tão amarelos quanto a música
da Cidade Negra revela.
E seguindo o sol, buscando-o,
querendo-o
vão pintando em sua janela
a paisagem mais bonita.

Ela te sussurra:
- Há uma saída.
Experimente a janela.

Através dela o céu tão azul,
azul como você nunca viu.
Azul-céu, azul anil,
que vai se modificando conforme o Sol
vai se pondo.

Um azul
que nunca foi possível se ver
nos olhos de ninguém.
Aquele azul é seu.
E dos girassóis.

Os girassóis capturam o azul,
o amarelo, todas as cores em volta.
E te sussurram:
- Você se encontrou.

Mas há - sempre haverá!
pedras no caminho,
como disse, um dia, Drummond.
E entre as pedras, há de nascer
quem sabe uma única vez
uma flor.

Que tal um girassol?


(Especialmente pro Math, pela paixão por girassóis e pelo poema lindo que me inspirou.)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sobra tanta falta

A paisagem me chama e não a vejo. Não vejo nada ao meu redor porque faltam imagens em minha mente. Além da sua. A sua imagem é a única que me aparece o tempo inteiro. E, mesmo assim, as imagens recentes não me permitem te recordar tanto assim. Nunca mais te vi. Nunca mais focalizei aquele sorriso lindo. O inacreditável é que eu quis que isso acontecesse. Eu inventei a falta de tempo para fugir; não tive paciência nenhuma de encarar você. Ainda não tenho. Eu não tenho vontade e tenho ao mesmo tempo. É uma contradição permanente, um nó que cada vez se aperta mais e vai entalando na minha garganta. As palavras não passam: falta tanta coisa para dizer que eu não consigo. Queria poder dizer que eu tenho medo e que nunca tive. Eu tenho medo do tamanho do que eu sinto por você, eu tenho medo de não saber me controlar diante do seu olhar. E eu também tenho medo do que isso causa em mim. Todos os dias é uma luta entre razão e emoção. Todos os dias eu tenho que escolher. E eu não sei escolher. Eu possuo tantas meias-verdades guardadas dentro de mim que queria poder contá-las. Porém elas não cabem nem dentro das palavras, nem dentro dos meus olhos, nem dentro dos meus sorrisos. Elas não cabem nem em mim. O desejo de você é exponencial. E você me deu todas as pistas para acreditar que o seu cresceria na mesma proporção. Mas agora, sobra tanta falta de amor. Sobra tanto espaço dentro de todos os abraços, porque só são realmente preenchidos quando você está neles. Sobra tanta falta de carinho. Sobram palavras demais e verdades de menos. Sobram expectativas e faltam realizações.
Será que o que você me deu foi realmente dado, não foi emprestado? Será que não era para eu usufruir por um tempo e depois abandonar? Qual o intuito disso tudo, afinal? Eu quero saber se o que me deu é meu ou é seu. Eu quero saber se compartilhamos alguma coisa. E quero saber se dentro de você ainda existe alguma coisa não dita também.
E de novo a paisagem me chama e não a vejo. Os pássaros cantam e não ouço: audição, visão e pensamento são totalmente ocupados por você.

(Texto inspiradíssimo na música "Sobra Tanta Falta" de O Teatro Mágico)

100ª POSTAGEM DO BLOG!

sábado, 13 de outubro de 2012

Dois mil e sete

Eu não sei por que eu penso tanto em você se convivemos tão pouco. Eu não sei a razão para você ser a primeira pessoa a vir à minha cabeça em diversos momentos.
Faz tanto tempo que você se foi... Faz tanto tempo que eu convivi com a tragédia de não te ter por perto.
Creio que você teria a minha idade hoje. E que provavelmente ainda seríamos amigos, apesar de que nós estávamos apenas construindo o início de nossa amizade quando você foi embora. Mas eu senti um carinho por você que eu não soube explicar. Não sei dizer se foi paixão, se foi amor de amigo, se foi outro tipo de amor... Tive muito pouco tempo para descobrir o que foi aquilo que você despertou em mim.
Hoje eu resolvi escrever para você pela primeira vez, porque faz alguns domingos que me pergunto porque sempre rezo por você quando me pedem para rezar por pessoas queridas que se foram. Você é sempre o primeiro que eu penso. E todos os dias, eu estou sempre pensando em você. Dizem que amizade é um amor que nunca morre. Talvez seja isso, talvez tenhamos tido pouco tempo, porém o necessário para consolidar esse amor. Não sei. O que eu posso te dizer é que você está dentro de mim desde o momento que sorriu para mim pela primeira vez.
Eu tenho lembranças muito vagas, pois já faz cinco anos. Poucas memórias, mas boas memórias do nosso polícia e ladrão e de você me dizendo que era o lobo mau. Tão engraçadinho! Discuti contigo inúmeras vezes, me lembro bem, trocando ironias enquanto você brincava comigo.
Nós estávamos apenas começando... Talvez hoje fôssemos... Ou não fôssemos nada, ou nos afastássemos. Eu não tenho como saber, apenas como lembrar. E como eu lembro de você... Daquele seu rosto de criança... Acho que você estaria tão lindo hoje. E esse ano você estaria no mesmo processo que eu, no mesmo ano que eu, estaríamos mudando as nossas vidas um com o outro e compartilhando tudo isso. Ou não. Mas eu teria vontade, é certo.
Aquele dia em que eu recebi a notícia é um dia que eu jamais vou esquecer. Tudo que eu pude pensar foi: "Como Deus quis levá-lo tão cedo?", mas depois eu vi que Deus estava precisando de um anjo. E que não existia melhor pessoa para cumprir esse papel do que você.
Hoje eu sei que você olha por mim. E que você ouve todas as minhas orações. Eu espero que você esteja bem. Eu espero que você esteja em um lugar lindo.
Tenho saudades do que a gente nunca viveu. Saudades eternas.
Eu te amo, Pedro. E me desculpa por só descobrir isso depois que você se foi.

De JAN/07 até...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Silêncio. Estou cantando a minha vida.

Minhas mãos escrevem
o que meu coração quer falar
É a resposta para tudo
e todas as perguntas
que precisam de mais respostas

Tudo muda quando olho para o papel
A caneta desliza como uma nuvem
a acariciar o céu
As letras se transformam diante os meus olhos
e viram sentimentos

Sinto a paixão, o desespero,
sinto o tempero, o cheiro
Sinto suas mãos a me tocar
Sinto todas as cenas a passar
diante do meu olhar
como um filme a me torturar

As lembranças boas também vêm
e tristezas e alegrias passam a fazer parte da mesma imagem,
aquela imagem que exprimo no papel,
que a caneta desenha e cada letra descreve
Cada "a" e cada "r" é um pedaço da minha história
Todo o alfabeto produz os acordes da minha canção

Minha vida tem trilha sonora,
e nela está contido cada passo
no escuro
que fazia barulho ao não querer fazer
para não acordar ninguém
Nela está contido cada agudo
que eu alcancei tentando cantar
a nossa melodia
Nela está contido cada suspiro que eu dei
tentando te esquecer
Minha trilha sonora
Possui o barulho das gargalhadas ao raiar do dia
e os soluços da madrugada

E todas as palavras possuem cada som
que um dia fez parte da vida
E, juntas, compõe a melodia
que embala cada dia,
que me faz entender
porque há tantos acordes que eu ainda não conheço:
a cada segundo produz-se uma nova parte da canção.

Ela não tem fim,
não tem início
Apenas meio
Não possui maestro
Vai-se guiando pelos acontecimentos,
pelos momentos e sentimentos

A cada dia se renovando
e tocando aos meus ouvidos novos sons
Porque também a cada dia eu me conheço
e vou, aos poucos, cantando
A nova melodia que se apresenta

A poesia, os contos,
dão o tom exato às minhas trilhas sonoras
que se estendem por toda a vida
e perpassam todas as horas
e todas as histórias
e todas as memórias.

domingo, 7 de outubro de 2012

Eu sou carioca


Fechei, fecho e fecharei com Marcelo Freixo.

É inexplicável o que essa campanha causou em mim. Nunca me arrepiei com política e, muito menos, me interessei por política. E aí vem Marcelo Freixo, chega de fininho, com seu partido pequeno e ousado e me conquista. E vejo conquistar centenas de jovens por esse Rio de Janeiro. Vejo crescer a esperança nos olhos da nova geração. Convenço meus pais, meu irmão já está convencido. Começo a conversar, a me politizar. Eu vi crescer essa campanha, eu vi nascer um novo olhar entre os jovens, uma nova certeza. Uma onda de adesivos com o solzinho me invadiu. E eu via as bandeiras, os vídeos, os debates. Esperei ansiosamente por todos os debates. E torcia e gritava e falava com o Freixo através da televisão. Tive a oportunidade de comparecer ao comício na Cinelândia e presenciar a mudança de local, pois não cabia todo mundo na ABI. Meus olhos marejaram ao ver aquela quantidade de pessoas acreditando tanto quanto eu. Pesquisei as propostas e não estava nessa somente porque a juventude estava com ele. Não, eu fechava - e fecho - com ele.
Não posso declarar aqui que o governo do atual prefeito foi totalmente ruim. Mas o fato é que eu vi mudanças acontecerem e não se concretizarem; eu vi as mudanças e não as melhorias. Fazer o que? O triste é ver que o carioca - e o brasileiro também não, penso - não valoriza seu voto. Prefere optar pelo confortável e já certo do que por uma mudança efetiva. E não digo nem pela adesão ao Socialismo. Não, até porque não me considero socialista (tudo bem que tendo muito mais para esse lado). Porque seria impossível implantar o Socialismo aqui, mas digo pelas propostas de conversas com a população para decidir o que quer que fosse, pelas milhares de vezes em que ele abriu os olhos para todos os problemas ao redor e também por ser uma campanha não financiada que contou com a livre e espontânea vontade da população de colaborar. E ela colaborou! Tivemos uma porcentagem boa dos votos - não o que gostaríamos, é lógico.
E o meu balanço final de tudo isso é que valeu a pena. Só de eu poder sair hoje para votar feliz e com a plena consciência de que sou cidadã, só de abrir um sorriso ao ver a foto de Marcelo Freixo ao apertar cinquenta e confirmar, só de ter esperança na política, valeu a pena. E valeu ver a quantidade de sorrisos que essa campanha despertou e o legado que tudo isso deixou.
Não é hora de fraquejarmos, nem de desistirmos. O sonho começou. A nova política está aí. A política somos nós e não ele. E se cobrarmos, se quisermos, poderemos construir um Rio de Janeiro melhor. Basta agora que usemos todas as nossas convicções adquiridas para desejar ao prefeito um bom governo. E para cobrar que seja assim e que não tenhamos mais quatro anos de desgostos.
Eu sou muito feliz por ter feito parte disso.

(E apoio a candidatura do Freixo a governador daqui a dois anos!)

sábado, 6 de outubro de 2012

Paredes

Tudo a minha volta continha o seu nome. As paredes desbotadas me lembravam de quão desbotada estava a minha vida. Encostada em uma delas, com um livro no colo - não mais papel e caneta - as letras embaralhavam-se em minha mente e não faziam sentido algum. Precisei revisar as frases mais de cinco vezes, para tentar uma compreensão mínima do que eu li. O que eu li? Não sei. Eram dores de algum outro amor - não aquele que doía em meu peito agora; eram feridas expostas de outras pessoas que pareciam as minhas, que lembravam você, todas as vezes. Recordo-me de agarrar o livro com tamanha força que era provável ter te personificado ali. Me peguei conversando com as paredes, contando a elas todos os meus segredos, aqueles que você fingia não saber. Não era muito boa com as palavras, mas, de alguma forma, aquelas paredes me entendiam e encará-las, na verdade, parecia um conforto. Nunca estive tão bem entre quatro paredes, a não ser quando estava contigo. Naquele momento, as paredes poderiam estar mais distantes ou mais próximas: eu não me importaria. Porque a única coisa que importava realmente eram as minhas costas encostando em uma delas. Estava gelada. Gelada como o meu coração. Nada combinaria mais com aquele frio do que você e seus braços, seus abraços, seus passos em direção aos nossos laços e pedaços. O arrepio que percorria a minha espinha pedia por você, por nós. A parede encostada em minhas costas atormentava-me dizendo o quanto eu estava só. Todas as paredes pareciam me esmagar, me sufocar. Encurtaram a distância e eu acabei percebendo; uma distância tão frágil onde só caberia eu e você. E as paredes a escutar também o nosso caso secreto. Quando se expandiam, elas traziam solidão e ainda mais vontade de você. Por isso não importava aonde estivessem, elas sempre seriam você. Como cada canto daquele quarto vazio, frio, oco. Como cada espaço do meu corpo, vazio, frio e louco. Cada vestígio de nós estava presente ao redor. Em mim, em todos os meus poros. E naquelas paredes.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Ponto final


Andou de um lado para o outro buscando o que dizer, como dizer. Sabia exatamente todas as coisas que sentia, mas tinha medo de expressá-las. Queria, de todo o coração, livrar-se desse peso enorme; dessa dor que parecia não sarar nunca. Ensaiou milhões de formas de revelar e não conseguiu. Escreveu em um papel apenas “Esse é o ponto final.” E acreditou naquelas palavras como se o resumo de sua vida estivesse escrito ali.
Passado um tempo, ainda pensava com a mesma frequência e sentia na mesma intensidade. Era uma tortura vê-lo ali, tão seu e, ao mesmo tempo, tão distante. Desistiu de acreditar que tudo poderia diminuir, porém teria que travar uma batalha com si mesma para realmente declarar o fim. Escreveu-lhe uma carta.
“Eu tentei tantas vezes que não caberia nem nos números, eu tentei tanto que minhas lágrimas secaram. E sabe o que eu tentei? Mostrar que eu estava aqui. Eu desisti de tentar. Porque, afinal, sempre chego a essa parte mesmo. Desisti de relembrar seus olhos nos meus todas as vezes, o seu sorriso que se alargava ao me ver sorrir. Desisti de querer que nós fôssemos o que nunca fomos. Eu te quis e ainda te quero, todos os dias. Aliás, todos os dias, tardes, noites e madrugadas. Desejo-te ao meu lado como pássaros presos desejam a liberdade. Porém eu descobri que muita coisa me aguarda além de você. Eu não abriria mão de nós se... Bem, se. Só que cogitar o ‘se’ já não faz mais parte da minha vontade. Queria que existisse algo injetável que me fizesse imediatamente te esquecer. Mas, no final das contas, eu não quero te esquecer... Eu quero apenas escrever para você. Escrever sobre tudo aquilo que minha imaginação insiste em alimentar, contos-de-fada e toda a magia que vi quando nós nos abraçamos.
Eu queria te entender e me entender também. Porque eu parei de me entender desde quando me perdi no seu olhar. Eu continuei nele e continuo lá até hoje, quando, certamente, deveria estar em outro lugar. Não desejei te lembrar a cada segundo; não quis que meu coração acelerasse só de recordar. Aconteceu. E eu gostei muito. Insisti muito na fantasia e isso não me fazia mal, porque te imaginar comigo parecia alcançável. Não parece mais. Talvez eu nunca tenha percebido que não pareceu nem por um segundo.
A vida não te trouxe para mim. Ela covardemente nos juntou para nada. E eu sofri, chorei, mas e agora? Existe tanta vida lá fora. Outros amores, outras dores e outras cores. E do que me adianta? Se tudo está lá e eu aqui. Eu continuo aqui sem você.
E esse é o ponto final da minha loucura chamada paixão.”
Nunca lhe entregou.


(Então, eu com o meu vício por cartas nunca entregues e sempre com trilhas sonoras.)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ar

Ah, se você pudesse sentir
Como é não conseguir dormir
Ouvindo minha porta grunhir
Recordando-me dos seus passos a fugir

Sem ouvir a sua voz cansada
Me dizendo frases tão erradas
Que de tão bem elaboradas
Me atingiam como flechadas

Você devia estar aqui para ver
O que eu me tornei depois de você
Todos os poemas que deixei de escrever
E a vida que não consegui viver

Aqui não para de chover desde que você voltou para casa
Lembrando-me de todas as vezes que me deixou em brasa
Pensando que você era um anjo sem asa
Afundando-me em palavras rasas

E se o meu lar for onde houver sua respiração?
Se tudo que vivemos não foi em vão?
Você vai voltar para acabar com essa solidão
E parar de machucar o meu coração?

Será que você vai lembrar
Tudo que minha mente faz questão de recordar
Os momentos que estivemos juntos a voar
Olhando-nos como se só restasse nos beijar

Onde é que você vai guardar o rascunho dessa história?
Dessa mania de te amar quase compulsória?
Se conseguir esquecer, quero ser testemunha da sua vitória
Quero estar presente para ver essa glória

Será que você vai fazer fogueira para queimar
Todos os traços do que vivíamos a contar?
Todo o percurso que nos propusemos a caminhar?
Toda vida que quisemos nos doar?

Mas não dá para fechar a biblioteca da memória
E abrir mão da nossa história
De toda a nossa conturbada trajetória
Sem antes uma simples dedicatória

Você já me conheceu o bastante para saber
Se quer estar comigo até o amanhecer
E me abraçar quando chover
Dizendo que sou o que você sempre quis ter

Se eu sou ou não boa o bastante para você
Se quer mesmo me esquecer
Se amanhã você quer ver o dia nascer
Com alguém que só sabe te querer

Quando você acordar
Eu estarei onde deveria estar
Oferecendo-te meus lábios para beijar
E desejando suas mãos para tocar

O meu nome vai sussurrar
Em meus ouvidos sua voz vai ressoar
Todos os pássaros enfim irão cantar
Pois sua boca estará a declarar

Eu posso te ouvir
E as palavras saindo da sua boca sem medir
A quantidade de arrepios que me faz sentir
Depois de declarar que só comigo poderia existir

Sinto como se nós não estivéssemos a sós
E tivéssemos que desatar os nós
Do que realmente somos debaixo dos lençóis
Dois corpos, duas almas ou dois sóis?

Você está aqui
E é o meu único motivo para sorrir
Eu sinto como se não fosse possível te deixar ir
É insuportável a ideia de novamente te imaginar partir

Eu sinto que eu posso estar
Em qualquer lugar
Se seus olhos continuarem a me olhar
Fazendo aquela ferida se curar

Eu sinto que eu sou o ar
Nos seus pulmões a repousar
No seu peito a descansar
Pronta para eternamente te amar


(Esse poema foi fruto de uma inspiração belíssima. O primeiro verso de cada estrofe é parte da letra de uma música chamada "Ar", do Visconde. Eu omiti poucas partes da música, porém consegui criar com ela algo que me pareceu, no mínimo, digno dela. Foi a minha homenagem a essa letra e melodia incríveis.)

sábado, 1 de setembro de 2012

Insônia

E em meio a tantos versos
Diversos, me divirto
Me disperso
E desfaço e disfarço e refaço
Ao final, não era nada
Senão um passo rumo ao espaço
Um novo caminho na estrada
(Um novo molho para a salada
Crença em conto-de-fada)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

My endless love.

É ao som de Endless Love que começo a escrever para você. Procuro palavras que parecem indizíveis, mas tenho tanta coisa a dizer que preciso colocar vírgulas e pontos em seus lugares corretos.
A começar por essa música, que foi a nossa última música, a minha despedida. Sem eu saber, te convidei para gravarmos um vídeo para o "meu trabalho do colégio" que, na verdade, era para o meu namorado, que você nem sonhava que eu tinha. Cantamos juntos pela última vez. E eu tirei a nota máxima no trabalho!
Eu sempre fui impressionada com a sua sensibilidade musical, pois sempre que eu te mostrava uma nova música, você pegava seu violão e com cinco ou seis tentativas, tirava a melodia inteira para que nós cantássemos juntos. Você sempre me incentivava a cantar... Por mais que eu nunca tenha acreditado de verdade na minha potência vocal, você me fazia ter pelo menos orgulho do que eu cantava e de quem eu era. Você me fez ter certeza de que a sua escolha por música tinha sido completamente válida. Eu te julguei por muitas vezes por ter largado a Engenharia no último período, mas não existiria nada que combinasse melhor com o seu dom do que música. Porque era isso que você era, independente de faculdade: músico. E o brilho nos seus olhos sempre que você me mostrava um novo projeto musical seu era o que me fazia ter certeza de que a música era mesmo o seu lugar. E o meu também.
Tudo começou na nossa quarta-feira musical. Naqueles tempos em que eu mal conseguia tocar violão, porque ele era maior do que eu. Eu desisti de tocar, mas não deveria. Depois a gente trabalhou apenas na voz... E você sempre me dizia o quanto eu tinha talento para isso. Eu nunca mais cantei de verdade depois que você se foi, sabia? Já tentei milhões de vezes no karaokê, sem muito sucesso, mas a magia não acontece sem você aqui. É que foi essa a descoberta que eu fiz: tudo não passava de magia. E, depois que você me deixou sozinha com a minha voz, essa magia passou a não existir. Há quem diga que eu preciso de alguém que me incentive novamente... Talvez. Fato é que essa pessoa era você. Por mais que eu tenha certeza de que ainda me incentiva aí de cima, não existe mais a minha música sem o seu violão.
Foi você que me fez acreditar em cada nota. Foi você que me fez cantar as minhas primeiras notas, decorar cada som, começar a ler partituras como ninguém; foi você que criou em mim essa facilidade e essa ligação com a música que até hoje é algo que vem do fundo do meu ser. Você que me fez acreditar que eu poderia ser tudo que eu quisesse. E hoje, apesar de ter algumas pessoas contra o que eu quero ser, eu sei que você me apoiaria em cada decisão e me diria: você será uma ótima professora de Português, princesa.
Eu não tenho palavras para te agradecer por fazer brotar em mim esse amor... Por Tim Maia, Rita Lee, Marisa Monte (porque "meu agudo é mais agudo do que o dela"), The Beatles, Maurício Manieri... E por aí vai... Eu nunca vou conseguir te agradecer por ter plantado a sementinha dos sonhos dentro de mim, porque hoje eu sou cheia deles e sei que você estará sempre comigo para me ajudar a realizá-los. Você é meu eterno amor e nossa última música só enfatizou isso.
Obrigada por ter colocado pontualidade em mim (britânica! e com tiques nervosos por dois minutos de atraso!); obrigada por me fazer amar cada instrumento musical e admirar todos os que fazem música; obrigada por me ensinar, através da música, o que é o amor; e obrigada, mais do que tudo, por ter dito que me ama e que acredita em mim, porque eu tenho talento para isso.
Fará dois anos que você me deixou. E dois anos que eu tenho vontade de chegar na sua casa e te dizer "Tio, a gente pode cantar essa música?"
Eu te amo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

E eu me lembro dos seus olhos...

Eu me lembro perfeitamente, como se eu estivesse assistindo esse filme novamente, como se pudesse ver todos os detalhes para descrevê-lo. Foi um filme lindo, eu confesso. Que poderia ter alcançado sucesso de bilheteria pelo tamanho de sua intensidade; poderia ter alcançado muitos corações com vontade de sentir tudo aquilo que emanava de mim para ele. E dele para mim. Através, principalmente, dos nossos olhos.
Recordo-me daqueles olhos. E não me canso de escrever sobre eles. Aquele brilho que eu nunca vi igual, que eu posso dizer que é meu porque me dei o direito de roubá-lo, de pegá-lo para mim, foi a coisa mais linda que já presenciei. Olhos acesos, como em brasa, encarando-me. E a boca dele não precisaria dizer nada, pois os seus olhos falavam muito mais. A intensidade me atravessava e rasgava meu peito, chegando imediatamente ao meu coração e o fazendo palpitar como nunca. Ou, como sempre, quando eu estava perto dele.
Foram cenas perfeitas de um romance muito bem escrito. Poderia ser visto sem nenhum som, que tudo faria sentido do mesmo jeito. Porque quando eu olhei para ele e ele me olhou de volta, os sons ficaram mudos. As pessoas falando ao lado não importavam, o vento bagunçando meus cabelos não fazia a menor diferença, as minhas mãos suando e minhas pernas bambas poderiam facilmente serem ignoradas.
Eram os olhos dele brilhando nos meus e eu podia me enxergar dentro deles com clareza. Mas, na verdade, não enxergava coisa alguma, só aquele mar em que eu me jogava cada vez que eu insistia em olhá-lo mais um pouco. Apossamo-nos de nossos próprios olhares e os fizemos prisioneiros perpétuos em nossa própria paixão.
E nunca houve nada em minha vida como capturar aquele olhar...

(Inspirado em "Beautiful Goodbye - Maroon 5", muito especificamente na parte "I remember your eyes were so bright...")

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Amor


A minha mente não capta;
Minha boca não descreve. Somente
O meu coração sabe, apenas sua pulsação está apta a
Receber tudo que o sorriso sorri e os olhos brilham, simplesmente.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

E continuo sorrindo.

Eu poderia escrever qualquer coisa sobre o significado desse dia para mim. Pensei até em fazer isso, explicitamente mesmo, com títulos como "Parabéns só para mim" ou "Recordar é viver" ou "Eba, dois anos! Ou não". Eu fiquei meditando a respeito de vários textos, todas as coisas que eu poderia dizer, fazer que expressassem pelo menos um terço do que significa o dia Primeiro de Agosto. Mais do que todos os outros dias primeiro.
Não estava bem. Acordei muito bem sim, mas a animação logo se foi quando peguei meu celular e olhei a data. "Que droga", pensei, "Mas tudo bem, sobrevivo a mais essa."
O dia foi passando normalmente. Até que... bem, até que um motivo bem evidente para sorrir surgiu. E eu sorri. E, na verdade, estou sorrindo até agora... O Cielo não ganhou na natação, houve eliminados no judô e o basquete feminino também perdeu, mas eu continuei sorrindo.
E, por mais que eu cisme em dizer que ainda dói, eu percebo que há muito mais motivos para comemorar do que para me entristecer. Pois ainda há as lembranças boas, as memórias felizes, as recordações do que um dia eu fui. Porém eu aprecio muito o que sou agora.

E descubro que o dia Primeiro pode não ser tão ruim assim.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

- Mas o que um escritor faz?


O menino olhou-o, com os olhos brilhando de curiosidade.
- Escreve, oras – o senhor observou-o brevemente e deu de ombros, voltando a fitar o papel a sua frente.
- Mas escreve o que?
- Tudo o que der na telha. Qualquer coisa mesmo. Pode escrever sobre o mar, sobre o sol, sobre um menininho como você. Todas as coisas que vierem na cabeça – respondeu um pouco impaciente.
Os carros passavam do lado de fora do escritório, fazendo um barulho praticamente ensurdecedor.
- O senhor não precisa de silêncio para escrever?
- Não... Eu posso me inspirar no barulho. Posso me inspirar até nos seus sapatos sujos de lama que agora infestam meu chão de sujeira.
A criança olhou para seus sapatos e suas bochechas ganharam um tom avermelhado. Mesmo embaraçado, decidiu prosseguir.
- Mas o que é inspiração?
- Tudo que apareça em seus pensamentos que te possibilite de escrever.
Ele ficou em silêncio por um segundo e o velho começou apaixonar-se por aquele menino, tão ingênuo e tão curioso. Por que queria saber tanto a respeito da escrita? Será que era chegada a hora de repassar todos os seus conhecimentos?
- Será que o senhor... – ele começou, envergonhado.
- Peça, meu filho.
- Poderia me ensinar a escrever?
O senhor barbudo, de óculos embaçados e unhas largas maravilhou-se com a pergunta. Seus olhos brilharam e seu sorriso alargou-se, tomando conta de toda a sua face.

Todos os dias, pela manhã, o menino ia até a sala do senhor, que lhe dava uma folha por dia com uma frase, para que ele pudesse copiá-la embaixo. Ao final da cópia, o garoto pegava sua folha e mostrava ao barbudo, orgulhoso de seu feito. E perguntava-lhe por fim o que aquelas letras significavam. Também não sabia ler.
Eles riam das frases. Algumas não faziam o menor sentido para aquele pequeno ser, mas causavam uma sensação de paz que nenhum outro feito lhe causava.

- O que significa essa? – perguntou, ao quinto dia.
- “Davi colecionava elefantes magros. E sonhos.”
- Que esquisito... Elefantes não são gordos?
- A maioria sim, meu filho. Mas a imaginação de Davi era muito poderosa até para guardar elefantes em um pote. Um de seus sonhos era ver um elefante magricelo, que coubesse no baú de livros que havia em sua casa.
E o menino sorriu, satisfeito com a resposta.

- E essa? – perguntou, ao sétimo dia.
- “Há mais morangos no seu sorriso do que em qualquer canto do planeta, porque eu gosto de morangos.”
O garoto pouco entendeu... Como haveria morangos no sorriso?
- Você pode por qualquer coisa que você goste no sorriso de alguém, para que possa sorrir por dois motivos.
E o menino sorriu, satisfeito com a resposta.

- Qual seu significado? – perguntou, ao décimo dia.
- “Toda noite, Marcelo pedia que o céu descesse um pouco mais, para que pudesse se juntar às estrelas.”
Essa ele pôde compreender. Também desejava unir-se às estrelas e brilhar com elas.
E sorriu, satisfeito com a própria constatação.

Ao vigésimo dia, o senhor resolveu dar-lhe uma frase mais curta. Apenas três palavras. E pediu-lhe para voltar no dia seguinte, com a frase escrita três vezes. O menino assentiu e voltou, como esperado, no manhã que se seguiu. Porém, voltou diferente, aquelas palavras que ele mal sabia o significado mexeram com ele de uma forma que era impossível explicar. Ele sentia-se bem com elas. Dormiu com elas e acordou com elas. E foi com elas grudadas ao seu peito que chegou ao escritório naquele dia.
O velho sorriu quando o avistou.
- E então... Escreveu?
- Sim – e mostrou-lhe o papel, onde se repetiam três vezes aquelas mesmas três palavras – O que eu escrevi?
- “Eu sou feliz.”
- Mas o que é ser feliz?
Os olhos daquele homem se encheram de lágrimas. Como explicaria a um menino pobre e iletrado o que era felicidade? Como explicaria a alguém órfão o significado de se sentir alegre?
- Ser feliz é poder escrever – segredou-lhe.
- Então eu sou feliz.
- É sim – sorriu o senhor.
- Por que o senhor me mandou escrever a frase três vezes?
- A primeira e a segunda eram apenas para observação. A terceira era para que você acreditasse nas palavras, mesmo que não pudesse lê-las.
- Eu acredito.
O velho amigo deu então um caderno ao menino, onde ele passaria as outras frases para cópia e ensinaria verdadeiramente a escrita a ele, desde o princípio.

E a cada manhã ele escrevia aquela mesma frase em seu caderno, nunca se cansando dela. Acreditava fielmente nela. Assim, todos os dias ele era extremamente feliz.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vinte de julho

Eu sorri. Eles sorriram. Nós sorrimos juntos. Eu chorei. Eles choraram. Nós choramos juntos. Lágrimas de felicidade ou tristeza. Abraçados. Separados. Olhando nos olhos ou evitando olhar-se para não chorar ainda mais. Eu desabafei. Eles ouviram. Eles desabafaram. Eu ouvi. Eu falei pelos cotovelos, como sempre, e eles só sorriram. Eu abaixei a cabeça e eles a levantaram. Eu silenciei e eles entenderam. Eles falaram por mim quando eu não tinha palavras, tomaram minhas dores, foram parte da minha felicidade. Meus olhos brilharam e eles já sabiam o porquê antes mesmo de eu mesma compreender. Eu caí e eles me levantaram. Eu permaneci de pé apoiada nos ombros deles. Eles estiveram comigo contra o mundo, contra tudo e todos; ficaram comigo até o amanhecer. Eles cuidaram de mim quando eu precisei ser cuidada, me fizeram rir quando eu achei que nenhum sorriso poderia escapar dos meus lábios. Eles me emocionaram, fizeram meu coração bater mais rápido.
Eu quis desistir, eles me puxaram de volta. Eu quis ir em frente e eles me deram a mão. Eles me disseram "salta, que eu salto com você". Eu desejei, eles arriscaram por mim e comigo. Eu precisei e eles me deram. Eu os amei e fui amada por eles. E eles foram e são os melhores amigos do mundo. Enquanto eu só posso agradecer por tê-los em todos os momentos da minha vida.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quando se amavam...

"(...) Eram como ar e pulmão, artérias e coração. Precisavam-se. E, por mais que fossem inegavelmente iguais, completavam-se.
Seus olhos azuis contrastavam com os olhos castanhos dela, numa mistura de cores quase perfeita. Ela não conseguia parar de admirá-lo e ele não tirava seus olhos dela. Estavam apaixonados em seu grau mais elevado. Não podiam evitar, porque era óbvio que encaixavam-se, formando o quebra-cabeça mais certo que já haviam montado. As peças dele tinham o contorno milimetricamente calculado para que pudessem juntar-se às dela.
Quando ele a tocava, era como se o céu descesse um pouco; como se eles também fizessem parte da constelação. Quando ela o beijava, o amor praticamente podia ser visto, como uma aura ao redor dos dois. Quando se chocavam, era como se todos os circuitos elétricos se encontrassem dentro de seus corpos, ligados a duzentos e vinte volts. Quando se amavam, o mundo inteiro não precisava mais existir, por estar dentro deles."

18/07/2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O segundo príncipe

"Cavalo branco. Nas mãos, ao invés de uma espada, um livro de poesias: Carlos Drummond de Andrade. Sua boca recitava algum poema de amor. Ela só ouvia alguém murmurando, estava muito longe. Muito mais do que gostaria de estar.
Debaixo de uma árvore, lotada de maçãs, ela se encontrava, chorando baixinho. Segurava com firmeza também um livro. Carlos Drummond de Andrade e suas declarações de amor. Soluçava, à sombra da árvore. Ao seu lado, uma foto, parecia um príncipe, com um sorriso vitorioso, segurando uma espada. Outra foto: ela e seu príncipe valente em cima de um majestoso cavalo.
Pegou a segunda foto e rasgou-a. As lágrimas formavam uma cachoeira em seu rosto. Ainda gostava dele, porém ele não a compreendeu... Não conseguiu entender que ela não precisava de coragem ou de uma espada que provasse sua bravura. Não. Ela queria apenas uma flor, um carinho, uma música. Apaixonou-se por ele porque pensou ser ele o seu príncipe encantado. Mas não era. Seu reino era, de fato, muito bonito e continha um jardim com diferentes tipos de flores. Nenhuma dada a ela. Ouvia-o cantar todos os dias para agradar o povo. Nenhuma música para ela. Presenciava-o falando de amor para as meninas mais novas do reino que também sonhavam com seu príncipe. Nenhuma declaração para ela.
Amou-o por muito tempo e acreditou ser amada também, mas não compreendia a sua forma de amar. Sabia que era, porém não sentia-se assim. Não podia ir embora porque simplesmente seu coração a esmagava toda vez que pensava em deixá-lo. O que iria pensar a população dos dois reinos? O que ela seria sem ele? Afinal, ele a salvara. Ele era aquele que fora prescrito para ela. E, mesmo com todas essas certezas, ela ainda sentia-se tão longe... Tão longe do amor verdadeiro, do conto-de-fadas. Tão longe dos sonhos... Tão longe de si mesma: havia parado de escrever em seu diário, de cantar e de sorrir com os pássaros pela manhã.
Um dia, cansou-se de tentar compreender. Arrumou o que tinha de mais importante e saiu, na calada da noite, pelos bosques que ainda não conhecia. Teve medo mas, ao mesmo tempo, uma sensação de liberdade magnífica apoderava-se dela.
Correu até cansar e cair debaixo de uma árvore, pondo-se a chorar. Olhou o livro que estava grudado ao seu peito e folheou-o. Tentou sorrir, mas não conseguiu. As lágrimas rolaram em sua face até o entardecer. Até a hora em que o segundo príncipe apareceu.
Ela olhava, ainda fixamente, a foto dele. Abriu novamente seu livro e recitou-o em voz alta. As palavras saltavam de seu coração e eram proclamadas furiosamente.
O cavalheiro, intrigado, aproximou-se e, fechando o livro que estava em suas mãos, observou-a, encantado. Ela ainda não o tinha avistado e ele chegou ainda mais perto, sussurrando a continuação do poema que ela lia. Parou e olhou-o. Ele estendeu seu livro a ela. Sua respiração falhou e seus olhos brilharam. Os dele também acenderam-se. Sorriram: era o mesmo livro.
Rasgou a primeira foto."

domingo, 8 de julho de 2012

Ela tropeçou.

Mas, na verdade, era como se tivesse caído do 58º andar.
Ela subira muito rápido. Foi pelas escadas, pois o elevador seria mais rápido do que ela poderia suportar. Caiu algumas vezes nas escadas e, por mais que subisse calmamente, era como se tivesse chegado ao destino em segundos. Encontrou, pelo caminho, pesadelos e pecados que precisou de força para ultrapassar. Caiu sim, mas pisou neles e deixou bem claro que o que queria realmente era o mistério. Aquele mistério que puxava-a, que dava a ela cada vez mais energia para continuar seu caminho tortuoso.
Cansou, suou, transpirou e quase desistiu, porém estava ali: 57º andar. Faltava apenas um. O mistério chamava-a por todos os lados, gritando seu nome. Decidiu prosseguir o seu caminho, sorrindo muito mais do que o cansaço permitia.
Chegou e não viu ninguém. Debruçou-se sobre a mureta e deixou o vento lamber seus cabelos, deixou-se saudar pelo sol. Palavras conhecidas foram sopradas ao seu ouvido. Virou-se e continuou sem enxergar. Palavras doloridas, que a castigavam. Onde estava o seu mistério? Ele agora falava com ela e suas palavras a atingiam como flechadas. Doía muito. Sentiu um arrepio e teve medo. Pela primeira vez teve medo de estar ali.
Continuou observando a paisagem, esperando que algo acontecesse. De repente, foi empurrada. Por alguém que não conseguiu distinguir, pois as memórias recentes não permitiam que a conhecesse. Foi brutalmente empurrada, andares abaixo... Queda livre. Os sonhos destruindo-se mais e mais a cada andar.
No 2º andar, sorriu, tendo certeza do seu destino. O que não esperava era que, ao chegar, elas estariam lá. Com aqueles colchões de desenho animado que não a deixaram machucar-se. Não teve ferimentos aparentes, mas teve no seu coração. Porém elas, suas únicas verdades, as pessoas com que mais poderia contar, as amizades mais sólidas, curaram tudo. O tempo fez seu trabalho e os sorrisos foram possíveis graças a elas. O refúgio, o abrigo, o colchão, a segurança... Tudo encontrou nelas.
E não existia mais mistério, pesadelo ou pecado que fosse maior do que elas. Porque elas eram o amor.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Linha do horizonte

Sentou-se na areia da praia, os últimos raios de sol a convidavam a sorrir. O mar estava calmo, assim como seu coração. O céu azul trazia-lhe paz. Olhou a paisagem ao seu redor e agradeceu mentalmente por estar viva. A linha do horizonte falava-lhe sobre felicidade. Sorriu. Os ventos sopraram vozes conhecidas, frases já decoradas. Diante dos seus olhos, como um filme, passaram os seus mais recentes momentos: seus devaneios, choros, mágoas, dor. Fazia um tempo que não experimentava aquela felicidade que a brisa trazia. Sorriu novamente. Havia crescido. Depois da tempestade, finalmente apareceu a calmaria. E aquela menina, antes assustada, agora transformava-se em mulher. Parecia ser possível acompanhar a sua passagem... Tudo modificava-se diante dos seus olhos. Era como mágica. As gaivotas saudavam-lhe e o mundo parecia abraçá-la, acolhê-la como há muito não acontecia. A sensação de preenchimento encheu-a por inteiro; ela estava e era feliz. E, junto com o sol, despediram-se as tristezas. Dando lugar a lua, o sol prometeu-lhe a alegria e ela, encantada, prometeu ao sol que sempre falaria de amor. Porque amor não era ele. O amor estava dentro dela.

domingo, 1 de julho de 2012

Não quero mais falar de amor

Não quero mais falar de amor
Enquanto essa palavra rimar com dor
Enquanto ela tiver o seu sabor
Enquanto não me der mais aquele torpor

Não quero mais falar de amor
Enquanto a noite roubá-lo de mim
Enquanto o dia lembrar-me que será sempre assim
Que esse amor agora teve um fim

Não quero mais falar de amor
Enquanto ele insistir em trazer à memória
Aquele monte de história

Não quero mais falar de amor
Enquanto ele significar abandono
Enquanto não possuir dono

Não quero mais falar de amor
Enquanto a madrugada continuar tão fria
Sem seu abraço que me aquecia
Sem aquela boca que me sorria

Não quero mais falar de amor
Enquanto as estrelas não brilham
Enquanto os lábios não se tocam
Enquanto as flores não desabrocham

Não quero mais falar de amor
Enquanto recordar-me do que não posso ter
Enquanto for o que eu não posso ser

Não quero mais falar de amor
Enquanto não souber mais o que fazer
Enquanto ele não significar mais eu e você.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A gente

Ouvi você dizer
Que a gente ia ser feliz
Debaixo daquele chafariz
Que a gente faria o pedido
De para sempre juntos ficar
Que já estava decidido:
O destino da gente era se amar

Ouvi você dizer
Que iria colorir meu dia
Com aquelas cores que só a gente tem
Que a gente ia fazer moradia
Em lugares que não convém

Ouvi você dizer
Que a gente ia brincar de amar
E ao acabar a brincadeira
A gente continuaria a se beijar
Como se ela fosse realmente verdadeira

Ouvi você dizer
Tanta coisa que eu pude acreditar
Que um dia eu e você
Viraria "a gente"

Ouvi você dizer
Que só de olhar
Daria para perceber
Que a gente se amava infinitamente

Ouvi você dizer
Tudo que eu queria ouvir
Tanta mentira que só me fez sorrir
Tanta mentira que me deixou amar você.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Tempestade


"Então, ele chegou... Veio, de surpresa, com aquele brilho nos olhos e aquele sorriso que era tão meu. Veio, completamente vestido de amor, disposto a se declarar e se entregar como nunca. Disposto a me amar como sempre. Ele estava ali, parado, na minha frente. Olhando nos meus olhos e fazendo meu coração vacilar, brincando com as minhas emoções. Ele queria que eu me perdesse no castanho dos seus olhos, naquela tempestade tão confusa... E eu queria a confusão, sempre quis. Nunca me interessou a calmaria.
Sei que esperava alguma reação, mas não consegui, pois tudo nele prendia-me, hipnotizava-me, enlouquecia-me. Cheguei, por um momento, a estranhar o fato de ele ainda causar tudo isto dentro de mim. Fora de mim. De todos os lados possíveis, de todas as maneiras.
Aproximou-se um pouco, talvez um passo. O suficiente para desregular minha respiração e me deixar um pouco tonta. Acariciou o meu rosto. O necessário para desligar-me do mundo. Fechei os olhos, sentindo seu toque, seu perfume. Sentindo, na verdade, tudo que me era permitido, pois tinha medo de não possuir tais coisas nunca mais. Respirei fundo e sorri. Abri os olhos: ele sorria também. E meu coração me massacrava, implorando-me para chegar ainda mais perto.
Não precisei fazê-lo.
Abraçou-me docemente. Minha conexão com a Terra não existia mais. O mundo não importava. Ele importava. Ele e seu abraço. Ele e seus braços me envolvendo. Apenas nós. Queria muito dizer que o amava, me entregar ao seu abraço, suspirar e morrer de amor, mas não conseguia. Não parecia real. Era apenas um sonho, que eu precisava manter para sempre.
Tudo não passava de um sonho, até eu sentir seus lábios se aproximando dos meus, suas mãos escorregando para minha cintura. Até colidirmos e aquele choque, aquela corrente elétrica percorrer todo o meu corpo, da cabeça aos pés, me fazendo ver que ele realmente estava ali. Nos beijamos. Saudade. Paixão. Perdão. Amor. Mais do que tudo, amor."
(23/04/2012)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A maré / Amar é...

Eu me encontrava sozinha e confesso que não era nem um pouco assustador. Tinha me acostumado com a falta, a ausência e consequente solidão. Em mim, crescia um desejo de que ele estivesse por perto e, assim, a solidão não largava-me. Restava apenas sonhar com o seu rosto, com aqueles olhos que me tiravam do chão, com o seu sorriso que me fazia mergulhar no desconhecido. Aquela maré na qual eu só era levada por ele... Aquele balanço, constante vem e vai, no qual ele lançava-me pois sabia que eu sempre iria. Independente de data, local ou horário, eu iria sempre que ele me pedisse para ir ou toda vez que ele me levasse sem saber. E iria sempre sorrindo, aquele sorriso que não cessava de sorrir. O coração acelerado que sempre me denunciava. Iria com todas as pistas para que ele pudesse desvendar aos poucos tudo que crescia dentro de mim e que eu mesma ainda não tinha descoberto.
Apesar de não saber responder para onde iríamos, se aceitássemos ir juntos, tinha certeza de que era lá que eu queria estar.

Fui retirada dos meus devaneios pelas insistentes batidas na porta. Odiava ser interrompida no meio de um sonho bom.
Abri a porta. Não pude evitar sorrir.
- Senti saudades... - revelou-me, adentrando a minha casa.
Demorei um tempo para assimilar suas palavras. Saudades de que?
Como se lesse meus pensamentos, respondeu-me:
- Senti saudades do que nunca aconteceu. Vim fazer acontecer. Tem espaço para mim na sua vida?
- Sempre existiu um canto especial só esperando você bater à porta.
Pegou as minhas mãos e puxou-me para o seu abraço, onde eu deveria estar todos os dias. Olhei-o no fundo dos olhos, eles brilhavam. Os meus brilhavam. Corações acelerados e mãos suando. A primeira declaração de muitas. O primeiro beijo de muitos beijos.

Desliguei-me do mundo.
Ou melhor, o mundo desligou-se de mim. De nós.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Aquela que tanto esperei


"Sabe quando a gente se toca
E finalmente nota
Que quando a gente provoca
Há um choque
Entre respirações
E corações
Entre aquilo que te pertencia
E aquilo que a mim cabia?
Éramos um
Agora somos dois
Dois corpos, duas almas
Querendo-se, amando-se
Precisando-se

Você precisa de mim?
Diga-me que estaremos sempre assim.
Você em mim.
A corrente elétrica que passa
E transpassa e perpassa
E nos caça.

Nós.
É quando eu descubro
Que sem você era nenhum
E agora são dois
Em um."
ANA CRISTAL BARROSO

(Depois de sete ou oito anos... Aí está ela. Que demarca um novo começo. Uma continuação.)

terça-feira, 5 de junho de 2012

O despertar dos desejos

Escutei o piano de repente. Olhei em volta, olhei para dentro de mim. "Poderia ser eu", pensei. Poderia ser eu, de fato. Se eu tivesse continuado, se eu não tivesse desistido. Porque com essa mania de nunca terminar o começado, não continuei. Assim como o som do violão me deu vontade de tocar novamente, e como aquelas melodias - vozes tão bonitas - despertaram em mim um desejo de cantar mais uma vez, nem que fosse uma única vez, também vieram até os meus ouvidos os sons de poesia recitada. Meus olhos lacrimejaram: eu queria que fosse minha.
Eu finalmente desejei ter tudo de volta. A música, a poesia. Aliás, eu quis nunca ter parado. Quis voltar para tudo, para onde era o meu mundo. Porém me disseram que um poeta de verdade nunca volta, pois ele nunca parou. Se for verdade, ainda poderei continuar tudo que deixa meus olhos brilhando e que eu ainda faria se não tivessem existido tantos "se"...
Qualquer melodia me transporta a uma viagem infinita, para lugares onde já estive e pretendo estar mais inúmeras vezes. O gosto dos versos chegando, o som das palavras chamando parece tão perto que sinto não mais vontade, e sim, necessidade de escrever, de rimar, de tocar e poder expressar na voz tudo que se passa dentro do meu coração.
Houve o despertar de desejos escondidos, ocultos. Agora basta ouvi-los gritar e, mais do que admirá-los, colocá-los novamente em minha vida. Talvez falte em mim esse eu que eu era enquanto realizava-os. Esse é o eu que quero ser.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O adjetivo

Se colocassem o adjetivo "perfeito" em suas mãos e a pedissem para dá-lo a alguém, é certo de que não precisaria nem pensar. Chegaria até ele e diria:
- Tome. É seu.
E iria embora, rindo. Ficaria em casa imaginando o que ele faria com a perfeição. E chegaria a uma só conclusão: não precisaria fazer nada, pois a palavra já estava dentro dele, encaixada nele. Aquela era apenas uma palavra que já era dele. E então, iria até ele novamente e pediria devolução.
Ele, sorrindo, perguntaria o porquê daquela decisão. E ela responderia:
- Você não precisa disso, visto que já tem. E agora que eu te dei, se você me presentear devolvendo, terei em minhas mãos a sua perfeição. Eu a quero. Eu quero você.
Daria a ela a sua palavra; e não somente isso: daria-se, fazendo jus ao presente que ela pedira. Afinal, não existia outra palavra que expressasse com tanta exatidão o que ele significava para ela.
Perfeito. E, nos seus sonhos, dela.

domingo, 27 de maio de 2012

Sozinha.

No silêncio da noite. Olhos bem abertos, imagens passando como flashs. O quarto tomado por eu e você. Tomado por momentos, por lembranças, por fatos. Pelo fato de que você não está aqui e eu estou sozinha relembrando. Fato de que eu deveria estar pensando em outro alguém, mas não consigo querer mais ninguém.
Mas eu estou sozinha de novo. E talvez nunca tenha deixado de estar. Com você, fui eu. Porém até onde eu te tive? Até onde pude ser inteiramente eu? Não pude, não fui. Sempre sozinha com os meus pensamentos; com lágrimas carregadas de saudade. Sozinha mesmo com você. Vazia de carinho. Vazia de amor.
Diversas vezes quis me jogar sem saber aonde iria parar, tudo para que pudesse realmente te ter e me encontrar. Ou me perder e te achar. Diversas vezes entreguei-me apenas mentalmente, porque não há entrega de apenas uma das partes. Não consegui compreender por que não pude ser eu.
Porém agora, aqui, no escuro e só, nos vejo. E vejo como lembranças muito felizes, que passaram. Vejo que não pude ser eu por inteira, porque eu sou agora. E eu agora, sozinha, sou muito melhor do que eu pela metade. Ainda assim, existe a metade do meu coração que ainda aguarda, não sei bem o que ou quem. Ele espera que, um dia, eu possa ser completamente eu com alguém. Não mais sozinha.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Encaixe perfeito

"(...) Precisou olhá-lo fundo nos olhos para tentar falar-lhe que não havia mais nada em sua mente que não fosse ele. Há muito tempo... Ela não queria mais pensar em nada que não fosse ele. Não tinha necessidade de mais nada que não fosse a proximidade dos dois... Aquela proximidade que tinham agora. E ainda mais.
A proximidade que conseguiram após ela dizer-lhe tudo isso com os olhos. Proximidade causada por um beijo. Beijo doce, apaixonado. Beijo musical, com gosto de amor. Beijo com o encaixe perfeito. Beijo saudoso... Uma saudade do que nunca havia-se feito. Aquele gosto que nenhum dos dois tinha provado... Gosto de olhares apaixonados, borboletas no estômago, palavras não ditas pela boca e sim pelo coração, bobeiras compartilhadas, sorrisos escancarados, olhos verdes e castanhos se misturando. Gosto da mistura infinita de cores, do entrelaço de línguas urgentes. Gosto dela. Gosto dele. Gosto de, finalmente, 'nós'."
16/05/2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Esquecimento incompleto


"Depois que você me deixou, eu encontrava meus cabelos apenas sujos e meu rosto borrado com a maquiagem de dias atrás: o preto do lápis fazia o caminho perfeito das lágrimas que eu já chorara. À minha frente, porta retratos com as fotos de momentos tão bons que invadiam minha mente, intrusos como assaltantes querendo arrombar o portão de casa. Em meu pulso a pulseira, a sua pulseira, a nossa pulseira que, acima de tudo que ela representava, ela significava que estávamos juntos. Tirá-la de meu braço e aceitar que sua representação não valia de nada, custou-me muitas lágrimas e olheiras. Em minhas mãos, unhas por fazer e pedaços de esmalte vermelho que mais pareciam gotas de sangue. Seu perfume invadia todo o quarto, pois fiz questão de espalhá-lo para que não pudesse jamais perder seu cheiro como te perdi.
Me perdi de mim mesma, porque você fazia parte de mim. Porque, de alguma forma, você estava em mim e, sem você, faltava um pedaço. Talvez o mais essencial para que eu pudesse me encontrar. Passei dias me procurando, sem sucesso. Noites em claro, desejando-te de volta. Noites mal dormidas, com sonhos que mais pareciam pesadelos, onde infinitas vezes se repetia a cena do dia em que você me deixou. E ela veio à minha cabeça por muito tempo... Aterrorizando-me.
Mas, de repente, eu me encontrei. No meio daquela sujeira e bagunça que virara a minha vida e o meu coração, eu encontrei aquele "eu" que não dependia de mais ninguém além de mim. Aquela essência. Aquilo que verdadeiramente era eu. Encontrei, junto comigo, todo o romantismo e sonhos que sempre possui, com ou sem amores. Minhas unhas novamente pintadas de vermelho, agora não representavam sangue e sim amor. Amor próprio. Na tentativa de esquecimento, a alegria brotou.
E, depois de me achar, encontrei-o. Lindo. Perfeito. Que era tudo que eu sempre desejara e ainda mais. Que era alguém que me fazia não pensar, por quem eu não derramava uma lágrima sequer, apenas compartilhava sorrisos. E, ainda assim, meu coração era cheio de saudade. A ausência esmagava-me e a outra presença parecia não supri-la de fato. Era como um curativo, mas não uma cicatriz.
Ele era como um sonho transformado em realidade, com olhos que me absorviam de tal forma que eu parecia estar dentro deles. Ele me fazia relembrar meus sonhos, minhas vontades, reafirmar quem eu era e perceber que aquela pessoa não dependia de outras para amar. Poderia amar palavras, pessoas, ou apenas o vento batendo em seu rosto.
Porém não adiantava coisa alguma, pois ele podia ser tudo - e, realmente, era... Tudo menos você."

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Verde

Que mistério incrível eram os seus olhos! Possuíam uma profundidade que eu não compreendia. Às vezes, tristes. Às vezes felizes. Saudosos, raivosos, o que fosse... Misteriosos. E sempre modificavam-se quando me avistavam. Aquele verde que já era lindo por si só, tornava-se o meu verde. Dois abismos em que eu precisava me jogar. Dois precipícios que me encaravam e diziam-me "pule". E eu pulei. Eu pulava todos os dias. Pularia sempre que ele me olhasse. Porque sempre me disseram que vermelho era a cor do amor, mas ele negava tudo isso. Era verde. Aquele verde intenso que era a cor mais viva que eu já tinha visto. Aquele que eu costumava chamar de verde-amor. Aquele verde misterioso que saltava do seu rosto e vinha ao encontro dos meus olhos, afundando-me neles. Tudo se transformava em verde. Virava mar. Um mar verde. O mar que me fazia afogar... afogar e não querer ser salva jamais. O mundo passava a possuir uma só cor e era a mais linda das cores. E aqueles olhos ainda me olhando... O abismo mais perfeito. Que eu me joguei e me jogaria todas as vezes só para sentir o verde me dominar toda vez que o fizesse.

(Baseado na música "Abismo - Jorge Vercillo"; o verde foi por minha conta! Hahaha)

sábado, 28 de abril de 2012

Inatingível


Por mais que me pareça impossível me afastar dos pensamentos, quando sento no balanço, tudo evapora. O mundo se desliga por um instante e o vento tocando meus cabelos é a única coisa que posso sentir. De olhos fechados, sentindo todos os movimentos, consigo perceber todos os problemas e aflições indo para longe... voando para qualquer lugar que não dentro de mim. Sinto-me livre, a voar pela primeira vez. Mesmo tendo feito muito esse balanço ao longo da vida, sempre parece-me a primeira vez. É como se eu me deslocasse do mundo em que eu vivo para a felicidade instantânea. Para aquilo que eu gostaria de viver para sempre. É uma sensação eterna, infinita, que dura apenas alguns minutos, até meus músculos sentirem dor e eu ser obrigada a parar. Subitamente sinto todos os pensamentos invadirem-me novamente, aquela música que diz "estou feliz por você ter vindo", ou também aquela que diz que "eu sinto falta do seu corpo junto ao meu", ou qualquer coisa parecida. Todas as letras melosas, tudo, me cerca, me destrói.
Mas, enquanto eu estou naquele balanço, sou inatingível...

domingo, 8 de abril de 2012

Sem saída

"- Você pode vir aqui um pouco? - Ferrou. Esforços inúteis para tentar me manter sensata diante dele.
Ao invés de perguntar 'para que?' como qualquer pessoa normal faria, eu simplesmente fui, sem pensar em nada. Como sempre acontecia quando eu estava com ele. Nunca conseguia pensar em nada. Nada que não fosse ele, é claro.
Levantei-me cuidadosamente da rede, com medo de pisar em falso, já que parecia não existir mais chão. Tentei, em vão, acalmar meu coração, que palpitava muito mais do que eu pensei que ele fosse capaz. Tentei também não olhá-lo, porém seus olhos em mim, puxavam-me para eles e foi impossível não encará-lo.
Infinitos segundos se passaram, ao meu ver, até eu sentar-me na ponta do colchão e olhar em seus olhos.
- Pode chegar mais perto?
'Não, não posso...', pensei. Mas quem disse que eu agia de acordo com meus pensamentos? Quando ouvia sua voz, ela chegava aos meus ouvidos e todos os meus membros a atendiam, sem consultar o meu cérebro. Cheguei mais perto. Perigosamente perto: 'Perigo, perigo!', minha mente tentou avisar. Inutilmente.
- Pode falar... - tentei pronunciar, mas foi praticamente um sussurro.
Segurou meu rosto com delicadeza, pousando seu olhar - aquele abismo em que eu precisava me atirar - nas profundezas mais longínquas dos meus olhos.
- Eu nunca te esqueci - atirou as palavras, sem aviso prévio, me deixando sem saída, sem nenhuma escapatória. Aproximou nossos rostos e eu só tive tempo de dizer uma coisa:
- Nem eu."