segunda-feira, 25 de junho de 2012

A gente

Ouvi você dizer
Que a gente ia ser feliz
Debaixo daquele chafariz
Que a gente faria o pedido
De para sempre juntos ficar
Que já estava decidido:
O destino da gente era se amar

Ouvi você dizer
Que iria colorir meu dia
Com aquelas cores que só a gente tem
Que a gente ia fazer moradia
Em lugares que não convém

Ouvi você dizer
Que a gente ia brincar de amar
E ao acabar a brincadeira
A gente continuaria a se beijar
Como se ela fosse realmente verdadeira

Ouvi você dizer
Tanta coisa que eu pude acreditar
Que um dia eu e você
Viraria "a gente"

Ouvi você dizer
Que só de olhar
Daria para perceber
Que a gente se amava infinitamente

Ouvi você dizer
Tudo que eu queria ouvir
Tanta mentira que só me fez sorrir
Tanta mentira que me deixou amar você.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Tempestade


"Então, ele chegou... Veio, de surpresa, com aquele brilho nos olhos e aquele sorriso que era tão meu. Veio, completamente vestido de amor, disposto a se declarar e se entregar como nunca. Disposto a me amar como sempre. Ele estava ali, parado, na minha frente. Olhando nos meus olhos e fazendo meu coração vacilar, brincando com as minhas emoções. Ele queria que eu me perdesse no castanho dos seus olhos, naquela tempestade tão confusa... E eu queria a confusão, sempre quis. Nunca me interessou a calmaria.
Sei que esperava alguma reação, mas não consegui, pois tudo nele prendia-me, hipnotizava-me, enlouquecia-me. Cheguei, por um momento, a estranhar o fato de ele ainda causar tudo isto dentro de mim. Fora de mim. De todos os lados possíveis, de todas as maneiras.
Aproximou-se um pouco, talvez um passo. O suficiente para desregular minha respiração e me deixar um pouco tonta. Acariciou o meu rosto. O necessário para desligar-me do mundo. Fechei os olhos, sentindo seu toque, seu perfume. Sentindo, na verdade, tudo que me era permitido, pois tinha medo de não possuir tais coisas nunca mais. Respirei fundo e sorri. Abri os olhos: ele sorria também. E meu coração me massacrava, implorando-me para chegar ainda mais perto.
Não precisei fazê-lo.
Abraçou-me docemente. Minha conexão com a Terra não existia mais. O mundo não importava. Ele importava. Ele e seu abraço. Ele e seus braços me envolvendo. Apenas nós. Queria muito dizer que o amava, me entregar ao seu abraço, suspirar e morrer de amor, mas não conseguia. Não parecia real. Era apenas um sonho, que eu precisava manter para sempre.
Tudo não passava de um sonho, até eu sentir seus lábios se aproximando dos meus, suas mãos escorregando para minha cintura. Até colidirmos e aquele choque, aquela corrente elétrica percorrer todo o meu corpo, da cabeça aos pés, me fazendo ver que ele realmente estava ali. Nos beijamos. Saudade. Paixão. Perdão. Amor. Mais do que tudo, amor."
(23/04/2012)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A maré / Amar é...

Eu me encontrava sozinha e confesso que não era nem um pouco assustador. Tinha me acostumado com a falta, a ausência e consequente solidão. Em mim, crescia um desejo de que ele estivesse por perto e, assim, a solidão não largava-me. Restava apenas sonhar com o seu rosto, com aqueles olhos que me tiravam do chão, com o seu sorriso que me fazia mergulhar no desconhecido. Aquela maré na qual eu só era levada por ele... Aquele balanço, constante vem e vai, no qual ele lançava-me pois sabia que eu sempre iria. Independente de data, local ou horário, eu iria sempre que ele me pedisse para ir ou toda vez que ele me levasse sem saber. E iria sempre sorrindo, aquele sorriso que não cessava de sorrir. O coração acelerado que sempre me denunciava. Iria com todas as pistas para que ele pudesse desvendar aos poucos tudo que crescia dentro de mim e que eu mesma ainda não tinha descoberto.
Apesar de não saber responder para onde iríamos, se aceitássemos ir juntos, tinha certeza de que era lá que eu queria estar.

Fui retirada dos meus devaneios pelas insistentes batidas na porta. Odiava ser interrompida no meio de um sonho bom.
Abri a porta. Não pude evitar sorrir.
- Senti saudades... - revelou-me, adentrando a minha casa.
Demorei um tempo para assimilar suas palavras. Saudades de que?
Como se lesse meus pensamentos, respondeu-me:
- Senti saudades do que nunca aconteceu. Vim fazer acontecer. Tem espaço para mim na sua vida?
- Sempre existiu um canto especial só esperando você bater à porta.
Pegou as minhas mãos e puxou-me para o seu abraço, onde eu deveria estar todos os dias. Olhei-o no fundo dos olhos, eles brilhavam. Os meus brilhavam. Corações acelerados e mãos suando. A primeira declaração de muitas. O primeiro beijo de muitos beijos.

Desliguei-me do mundo.
Ou melhor, o mundo desligou-se de mim. De nós.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Aquela que tanto esperei


"Sabe quando a gente se toca
E finalmente nota
Que quando a gente provoca
Há um choque
Entre respirações
E corações
Entre aquilo que te pertencia
E aquilo que a mim cabia?
Éramos um
Agora somos dois
Dois corpos, duas almas
Querendo-se, amando-se
Precisando-se

Você precisa de mim?
Diga-me que estaremos sempre assim.
Você em mim.
A corrente elétrica que passa
E transpassa e perpassa
E nos caça.

Nós.
É quando eu descubro
Que sem você era nenhum
E agora são dois
Em um."
ANA CRISTAL BARROSO

(Depois de sete ou oito anos... Aí está ela. Que demarca um novo começo. Uma continuação.)

terça-feira, 5 de junho de 2012

O despertar dos desejos

Escutei o piano de repente. Olhei em volta, olhei para dentro de mim. "Poderia ser eu", pensei. Poderia ser eu, de fato. Se eu tivesse continuado, se eu não tivesse desistido. Porque com essa mania de nunca terminar o começado, não continuei. Assim como o som do violão me deu vontade de tocar novamente, e como aquelas melodias - vozes tão bonitas - despertaram em mim um desejo de cantar mais uma vez, nem que fosse uma única vez, também vieram até os meus ouvidos os sons de poesia recitada. Meus olhos lacrimejaram: eu queria que fosse minha.
Eu finalmente desejei ter tudo de volta. A música, a poesia. Aliás, eu quis nunca ter parado. Quis voltar para tudo, para onde era o meu mundo. Porém me disseram que um poeta de verdade nunca volta, pois ele nunca parou. Se for verdade, ainda poderei continuar tudo que deixa meus olhos brilhando e que eu ainda faria se não tivessem existido tantos "se"...
Qualquer melodia me transporta a uma viagem infinita, para lugares onde já estive e pretendo estar mais inúmeras vezes. O gosto dos versos chegando, o som das palavras chamando parece tão perto que sinto não mais vontade, e sim, necessidade de escrever, de rimar, de tocar e poder expressar na voz tudo que se passa dentro do meu coração.
Houve o despertar de desejos escondidos, ocultos. Agora basta ouvi-los gritar e, mais do que admirá-los, colocá-los novamente em minha vida. Talvez falte em mim esse eu que eu era enquanto realizava-os. Esse é o eu que quero ser.