sexta-feira, 13 de julho de 2012

O segundo príncipe

"Cavalo branco. Nas mãos, ao invés de uma espada, um livro de poesias: Carlos Drummond de Andrade. Sua boca recitava algum poema de amor. Ela só ouvia alguém murmurando, estava muito longe. Muito mais do que gostaria de estar.
Debaixo de uma árvore, lotada de maçãs, ela se encontrava, chorando baixinho. Segurava com firmeza também um livro. Carlos Drummond de Andrade e suas declarações de amor. Soluçava, à sombra da árvore. Ao seu lado, uma foto, parecia um príncipe, com um sorriso vitorioso, segurando uma espada. Outra foto: ela e seu príncipe valente em cima de um majestoso cavalo.
Pegou a segunda foto e rasgou-a. As lágrimas formavam uma cachoeira em seu rosto. Ainda gostava dele, porém ele não a compreendeu... Não conseguiu entender que ela não precisava de coragem ou de uma espada que provasse sua bravura. Não. Ela queria apenas uma flor, um carinho, uma música. Apaixonou-se por ele porque pensou ser ele o seu príncipe encantado. Mas não era. Seu reino era, de fato, muito bonito e continha um jardim com diferentes tipos de flores. Nenhuma dada a ela. Ouvia-o cantar todos os dias para agradar o povo. Nenhuma música para ela. Presenciava-o falando de amor para as meninas mais novas do reino que também sonhavam com seu príncipe. Nenhuma declaração para ela.
Amou-o por muito tempo e acreditou ser amada também, mas não compreendia a sua forma de amar. Sabia que era, porém não sentia-se assim. Não podia ir embora porque simplesmente seu coração a esmagava toda vez que pensava em deixá-lo. O que iria pensar a população dos dois reinos? O que ela seria sem ele? Afinal, ele a salvara. Ele era aquele que fora prescrito para ela. E, mesmo com todas essas certezas, ela ainda sentia-se tão longe... Tão longe do amor verdadeiro, do conto-de-fadas. Tão longe dos sonhos... Tão longe de si mesma: havia parado de escrever em seu diário, de cantar e de sorrir com os pássaros pela manhã.
Um dia, cansou-se de tentar compreender. Arrumou o que tinha de mais importante e saiu, na calada da noite, pelos bosques que ainda não conhecia. Teve medo mas, ao mesmo tempo, uma sensação de liberdade magnífica apoderava-se dela.
Correu até cansar e cair debaixo de uma árvore, pondo-se a chorar. Olhou o livro que estava grudado ao seu peito e folheou-o. Tentou sorrir, mas não conseguiu. As lágrimas rolaram em sua face até o entardecer. Até a hora em que o segundo príncipe apareceu.
Ela olhava, ainda fixamente, a foto dele. Abriu novamente seu livro e recitou-o em voz alta. As palavras saltavam de seu coração e eram proclamadas furiosamente.
O cavalheiro, intrigado, aproximou-se e, fechando o livro que estava em suas mãos, observou-a, encantado. Ela ainda não o tinha avistado e ele chegou ainda mais perto, sussurrando a continuação do poema que ela lia. Parou e olhou-o. Ele estendeu seu livro a ela. Sua respiração falhou e seus olhos brilharam. Os dele também acenderam-se. Sorriram: era o mesmo livro.
Rasgou a primeira foto."

Um comentário:

  1. Aniinhaaaaa,
    Que maravilhoso esse texto, me senti em um conto de fadas!! Vc conseguiu mais uma vez passar tudo que vc pensa, só que dessa vez em forma de fábula, eu super amei esse texto, sei lá, talvez pelo príncipe e a princesa, me lembrou romance de cavalaria, e lembrando disso o primeiro livro que me vem a mente é 'As brumas de Avalon' que é um dos se não o melhor livro que eu já li. Sinta-se muito, mas muito lisonjeada com isso hahahhahahha
    Eu realmente consegui te enxergar nesse texto, é vc em um conto de fadas, é muito vc!!
    Vc é um escritora maravilhosa, e mesmo que vc ainda não se veja como uma, quando vc virar e for muito famosa, lembre da humilde projeção que a sua linda amiga bruna já havia feito.
    Quando eu acho que não me surpreenderei mais com vc, vc me surpreende de novo, são poesias, metáforas, contos de fada, qual será o próximo? Amo isso, te amo!!

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