segunda-feira, 4 de março de 2013

O silêncio barulhento

Escutar o silêncio se calar parecia meio contraditório para ela. Descobriu que não. Estava mais do que acostumada a escutar o barulho mesmo com o silêncio: as vozes gritavam algo que, para muitos, poderia ser inaudível, mas para ela era um grito; grito esse que machucava, que dilacerava. A maior dor que poderia sentir era quando tudo a sua volta não fazia barulho, porque seus pensamentos tinham espaço para ecoar. Procurava, de todas as formas, ocupar seu dia com coisas que não possuíam o menor sentido, a fim de que sua mente não se manifestasse.
Quando tudo à sua volta era um grande vazio, aquela flecha a atingia em cheio no peito. O escuro, então, era o seu pior inimigo. Aprendera a respeitá-lo, porém com muito temor. Temia todos os dias ficar sozinha com seus devaneios e, quando a noite chegava, encolhia-se na cama: já os esperava, aflita.
Um dia, outra voz invadiu seu coração em meio àquele barulho ensurdecedor - que, mesmo assim, era o único silêncio que ela conhecia. Parou para escutá-lo atentamente. E, de repente, tudo se calou. Só aquele som suave permanecia, só aquela voz falava e a enchia de silêncio, de paz. Escutou, aos poucos, a voz ir calando tudo dentro dela. Seus olhos se acostumaram à escuridão e ela parecia enxergar ali.
Todos os dias cultivava essa voz e a ouvia com atenção. E aquilo que conhecia como silêncio se calou. Sentiu-se invadida pela grandiosidade da quietude. Ela, que estava tão acostumada a chorar, começou a sorrir.